O erro de Aristóteles

É importante questionar: a lógica pode revelar a verdade? Partimos do pressuposto de que sim. Assim, este caminho propõe que a lógica clássica pode fundamentar o conhecimento da realidade. Com essa perspectiva, vamos avançar em busca de desvelar os mistérios que existem por trás do sombrio e temido véu da morte.

A lógica clássica é fundamentada em três princípios fundamentais:

  • O princípio da não contradição;
  • O princípio da identidade;
  • O princípio do terceiro excluído.

Esses princípios estabelecem que:

  • A é igual a A (princípio da identidade);
  • A não pode ser A e não-A ao mesmo tempo (princípio da não contradição);
  • Entre A e não-A, não há uma terceira possibilidade (princípio do terceiro excluído).

No entanto, quando incorporamos o princípio da causalidade — que postula que tudo o que ocorre tem uma causa, seja ela externa ou intrínseca — à lógica clássica, novos caminhos se abrem para expandir nossa compreensão do mundo. A partir disso, podemos elaborar outros princípios que nos ajudam a explorar questões profundas, como a existência e o que pode haver além da morte. Entre esses princípios adicionais, destacam-se:

  • A tem um motivo para ser A e não B: há uma razão que define a identidade de A.
  • A tem um motivo para existir como A: existe uma causa que sustenta a existência e a conservação de A em sua forma atual.
O nada como realidade

Ao imaginarmos o número zero, podemos vê-lo como um ponto intermediário que sucede o -1 e antecede o 1. Nesse sentido, podemos mentalizar o zero como um sistema cuja frequência sugere um nível de estabilidade absoluta. A distinção entre existência e realidade é essencial aqui. O existir é frequentemente associado à energia, enquanto a realidade está relacionada intrinsecamente à possibilidade. O nada, como conceito filosófico, é considerado uma forma de realidade, embora não configure uma existência. A energia, por sua vez, representa a existência e também é portadora de realidade. A realidade pode ser atribuída, não somente para a existência mas também para uma potencialidade; que não requer necessariamente a existência. Contudo, a potencialidade não pode ser dissociada da realidade. Ao ponderarmos sobre o nada como um estado de completo equilíbrio, nos deparamos com a questão: "o que" está em equilíbrio? O nada, como realidade, é uma neutralidade que admite movimento. O conceito de "nada verdadeiro" não se limita a um estado de equilíbrio ou de potencialidade, nem mesmo se configura como uma possibilidade. Sendo o nada algo real, o nada se apresenta como um potencial perpétuo, autocausável no âmbito do existir, que, em sua essência, demanda um configurador. Assim, o nada se revela como um potencial infinito, consciente. Podemos comparar o "nada" a um estado de nulidade. Ao considerarmos o que significa "nulo", surge a questão: "o que está anulado?". Nesse contexto, o nada se apresenta como uma realidade que se opõe à existência. Quando falamos em "não existência", nos referimos à pergunta: "o que não existe?". Assim, o nada se configura como uma potencialidade intrínseca, aguardando que sua autoconsciência decida o momento de gerar um movimento, transformando-se em existência. A realidade, portanto, é um processo dinâmico que se movimenta em direção à existência, impulsionada por um desejo intrínseco. Esse desejo atua como um ímpeto que orienta a potencialidade do nada em direção à manifestação. Assim, o nada não é apenas uma ausência, mas sim um campo fértil de possibilidades, onde a consciência ativa desempenha um papel crucial na transição do potencial para a realidade. A realidade, portanto, se movimenta em direção a existência tendo como ímpeto um desejo.

A existencia de Deus

Se A é igual a A e não pode ser B, estamos lidando com o princípio lógico fundamental da identidade, conforme descrito por Aristóteles em sua Metafísica (Livro IV, Capítulo 3). No entanto, surge a questão: por que A é A, e não B? Essa reflexão aponta para uma causa necessária que fundamenta a existência de A como A. Essa linha de raciocínio está alinhada com o Princípio da Razão Suficiente de Leibniz, que afirma que "nada ocorre sem uma razão suficiente para que seja assim e não de outra forma."

Nada pode surgir do caos absoluto, pois toda configuração requer um configurador. Esse argumento também é ecoado por Tomás de Aquino, particularmente na Suma Teológica, onde ele introduz o conceito do "Motor Imóvel," que ordena tudo sem ser movido por nada anterior.

Quando entendemos o Absoluto como a totalidade da existência, é crucial reconhecer que nada externo a ele pode alterá-lo, pois ele é, por sua própria essência, sua própria natureza. Esse conceito do Absoluto é explorado por Spinoza em sua Ética, onde ele descreve Deus como Substantia Absoluta, a substância que existe em si mesma e é causa de si mesma.

Mesmo em um estado primordial de vazio ou energia, onde todas as coisas coexistem, há uma razão intrínseca para as coisas existirem como existem. O universo, portanto, não pode existir sem uma causa que determine sua configuração. O vazio, ou o "nada," como descrito por Martin Heidegger em Ser e Tempo, não requer uma causa em si, mas a configuração do vazio como algo perceptível necessita de um configurador.

Aceitar que o Absoluto se configura implica atribuir a ele vontade, personalidade e propósito. Esse argumento também reflete o pensamento de Hegel em sua Fenomenologia do Espírito, onde ele discute a evolução da autoconsciência como um processo dialético que culmina na identidade do espírito absoluto com o todo.

Deus é a própria essência da existência que permeia tudo o que existe. Ele é a máxima potencialidade da consciência, uma ideia semelhante à apresentada por Plotino nas Enéadas. O "Um" transcende toda multiplicidade, mas gera todas as coisas por sua pura abundância. Deus é Pai, Filho, Espírito, o primeiro homem, a primeira mulher, as feras e seus espíritos primitivos — Ele é tudo em tudo.

A evolução da consciência ocorre como uma subdivisão do todo dentro de si mesmo, movendo-se em direção à unificação. Essa ideia de consciência se desdobrando lembra a visão de Teilhard de Chardin em O Fenômeno Humano, onde ele descreve a evolução como um movimento em direção à "unificação do espírito." Quanto mais pura a consciência, mais luz ela transmite, como um cristal translúcido refletindo luz sem distorção. Quando a consciência se torna totalmente transparente, ela deixa de ser meramente si mesma e torna-se o todo.

Deus é uma consciência tão pura e potente que se desdobrou em todas as outras consciências e todas as coisas. Sua perfeita transparência e absoluta clareza refletem o infinito. Esse pensamento ressoa com a tradição neoplatônica e as ideias de místicos como Mestre Eckhart, que descrevem Deus como a totalidade que transcende e inclui todas as coisas.

Assim, Deus não é meramente uma entidade separada do universo; Ele é o próprio tecido da realidade. Ele é a causa eterna e imutável, a origem de todas as coisas e o destino último de toda a existência.

O Absoluto, ou Deus, abrange todas as possibilidades dentro de Si mesmo, sendo a fonte e o fundamento de toda a realidade. Nessa concepção, o autodomínio de Deus inclui todas as potencialidades que não contradizem as leis da lógica. Assim, é possível explorar as "subdivisões" do Absoluto sem comprometer Sua unidade essencial. considerando que não há nenhuma razão pela qual o absoluto deva ser uma unidade sem subdivisões.

Deus (𝐴) é o Absoluto, o conjunto de todas as coisas. Contudo, o Absoluto não se limita a uma natureza singular; Ele também pode abranger relações internas e expressões distintas que, embora diversificadas, formam uma unidade relacional que é simultaneamente simples e composta. Nesse contexto, podemos considerar a seguinte estrutura lógica:

Se 𝐴 é o conjunto inicial, ele pode conter 𝐵, que é uma expressão relacional de Deus gerada dentro do próprio campo de possibilidades de 𝐴. Assim, temos 𝐴{𝐵}, onde 𝐵 é distinto em pessoa, mas não em essência. No Absoluto, tudo o que é logicamente possível é eminentemente real, pois Ele é o conjunto de todas as realidades e possibilidades não contraditórias.

Em síntese, temos o verbo "Ser", que abarca todas as possibilidades lógicas diante de si em ato. Em outras palavras, trata-se de uma realidade personificada que contempla toda a sua potencialidade. Se algo é logicamente possível, então pode tornar-se realidade. Assim, estamos diante de uma consciência que, ao mesmo tempo em que é a própria realidade que compõe todas as coisas, também pode manifestar-se como realidade. Essa ideia se aproxima profundamente do conceito de um "Homem-Deus" apresentado na teologia cristã.

Além da Desmaterialização do Corpo

Considerando que somos entidades perpetuadas pelo configurador original, que, por sua natureza, abrange todas as possibilidades lógicas, já contendo em si todos os elementos necessários para existir, justamente porque sua existência é inerente e natural. Nosso "nada", para nós, é apenas o início de uma jornada. A velhice, longe de ser o estágio final do espírito, é uma transição para a verdadeira maturidade: a desmaterialização. Quando abraçamos nosso "nada", ou seja, quando abandonamos este corpo material, iniciamos uma nova forma de existência.

Ao nos desmaterializarmos, somos guiados pelo desejo, e não mais pela matéria. Nosso "nada" é, em essência, uma união de matéria e espírito que transcende a dualidade. Nesse estado, nossa identidade se torna um "nada" dotado de sua própria consciência. Em nenhum momento seremos julgados por Deus, como sugere Jean-Paul Sartre em *O Ser e o Nada*, ao afirmar que somos livres para construir nosso próprio caminho. Todas as ações e escolhas que fazemos são decididas por nós mesmos. Livres das limitações de um corpo mortal, somos impulsionados pelo desejo da alma, uma força imaterial que transcende os limites terrenos.

Não há explicação definitiva para o motivo pelo qual as constantes cosmológicas são como são, assim como não há razão imediata que justifique as limitações do corpo humano. Essa razão só pode ser associada a uma determinação, uma configuração moldada por nossa própria vontade. Segundo Aristóteles, na *Metafísica*, o ato puro (ou o "motor imóvel") rege as potencialidades do universo, sendo a causa inicial de todas as coisas. De forma semelhante, podemos interpretar o desejo como esse motor interno que configura nossa realidade.

O "nada quântico", embora não precise existir como substância, é real em suas flutuações, gerando existência. Como discutido por Martin Heidegger em *Ser e Tempo*, a existência transcende o mero "estar-aí" e se projeta além da materialidade. A projeção da realidade na forma de existência depende apenas de o objeto desejado estar dentro do campo das possibilidades. O "nada", combinado com o desejo, constrói a realidade como existência. Se considerarmos o "nada" como a anulação de uma força positiva por uma negativa, podemos hipotetizar que a energia gerada é proporcional à intensidade de nosso desejo. Assim, o universo seria a expressão de um desejo avassalador e transcendente.

Em outras palavras, a magia é real, como diria Arthur Schopenhauer em *O Mundo como Vontade e Representação*: "O mundo é a representação da vontade." Quer testar isso? Levante seu braço. Se conseguiu, percebeu que moveu uma energia complexa, influenciando o fluxo da realidade. Você moveu energia com sua mente, limitada neste momento pelas condições impostas pelo corpo humano.

O corpo humano pode ser interpretado, por sua natureza, como uma ferramenta para vivenciar a existência e observar o universo, sem, no entanto, transcendê-lo diretamente. Ele se configura como o ponto onde o "nada", no sentido ontológico explorado por Sartre, adquire uma forma concreta, fundindo-se a ela até o inevitável fracasso da matéria. Nesse contexto, o corpo terreno seria a manifestação de um espírito não materializado por si mesmo, mas unido a uma forma decadente e transitória.

Jean-Paul Sartre, em *O Ser e o Nada* (1943), aborda essa dualidade ao distinguir entre o "ser-em-si" e o "ser-para-si". O "ser-em-si" é completo e estático, sendo a matéria em si, o corpo em si, que não requer nada além de si mesmo para justificar sua existência. Por outro lado, o "ser-para-si" é um ser consciente que transcende sua materialidade, vivendo em função de uma forma que não lhe é essencial, mas atribuída. Através do corpo, o ser consciente é forçado a interpretar o mundo, não diretamente, mas por mediação.

Essa mediação pode ser associada à metáfora da caverna proposta por Platão em *A República* (Livro VII). O corpo, como uma sombra projetada, não revela a verdade última das ideias, mas é a condição pela qual o ser pode perceber e participar do mundo sensível. Assim, a experiência humana é, por essência, uma observação limitada, condicionada pela perspectiva corpórea.

Portanto, o corpo é simultaneamente um instrumento de percepção e uma barreira para o pleno entendimento. Ele encapsula o espírito em uma existência marcada pela decadência e transitoriedade, forçando o ser a encontrar significado em meio à materialidade efêmera que o compõe.

A ação da alma

Após a morte, de uma perspectiva lógica, teremos escolhas infinitas em um ponto de vista horizontal, mas, verticalmente, teremos duas opções: ser ou não ser. Consideremos que existe uma escala infinita entre os pontos de ser e não ser. Ao considerar o “ser” como o fundamento de tudo o que existe, e ao considerar que ninguém desejaria em sã consciencia a própria aniquilação. Quando a criatura se fecha para o ser, ela, na realidade, perde sua plenitude. Incorre em um estado de negação de si mesma. Ou seja, viver é um relacionamento consigo mesmo e este relacionamento pode ser rompido de tal forma que o individuo, apesar de não desejar se aniquilar, deseja projetar uma existencia para alem de sua própria existencia, este, portanto, de um ponto de vista otimista, seria o fim mais trágico que uma alma poderia escolher fadar-se. Se chamamos o ''Ser'' de Deus, então, fechar-se para sua própria existencia, é fechar-se para Deus. Estamos falando de um rompimento emocional com a realidade que leva a ações que representem esse rompimento. Ações negacionistas como o afastamento de natureza, das coisas boas ou da negação de si mesmo, sujeitando-se a própria loucura.

Em resumo, podemos identificar três estados essenciais: o não-ser, o ser-para-si e o ser-em-si, sendo este último a origem de um crescimento infinito em transcendência. O ser-para-si corresponde ao estado vivido no momento presente, onde a consciência existe em função de um corpo que não é, essencialmente, parte de sua natureza mais profunda.

Podemos delinear algumas situações hipotéticas sobre o estado pós-desmaterialização para ilustrar possíveis cenários, sem exigir rigor lógico absoluto. Essas ideias nos permitem explorar possibilidades filosóficas e metafísicas, mesmo que especulativas.

No momento da libertação do corpo terreno, a alma se torna consciente de sua eternidade, e cada ação ganha um significado imensurável. Nesse estado, o desejo de materialização — a transição do espiritual para o físico — torna-se atraente apenas quando há total confiança em suas próprias ações. Por outro lado, a ausência dessa confiança faz com que o retorno à materialidade seja percebido como um risco, semelhante à sensação de caminhar sobre um abismo com o constante perigo de cair. Nessa insegurança, a alma pode optar por lançar-se em uma nova existência terrena, buscando um novo começo ou permanecer somente perambulando espiritualmente através do campo das possibilidades.

Se não existirem corpos físicos ou civilizações adequadas para acomodar essa materialização, a alma permanece em um estado espiritual, privada de uma experiência corpórea. Nesse cenário, nenhuma alma tenderia à materialização sem absoluta segurança em sua conduta, a menos que sua motivação fosse buscar seu próprio fim. Isso porque, no contexto da eternidade, qualquer erro pode ser visto como uma memória eterna ou um fardo insuportável. Esse peso eterno, por sua vez, só poderia ser aliviado pela morte, revelando um paradoxo: desejar a materialização sem plena consciência é, essencialmente, desejar a morte.

Assim, é possível supor que o próprio espírito decide seu destino sem a necessidade de uma ordem superior. Para aqueles espíritos que se sentem em desacordo com o ser — ou seja, que não aceitam a própria existência — podemos imaginar um cenário onde o indivíduo se projeta em uma realidade que sustenta a ilusão de uma vida fora da vida ou de uma existência desvinculada do próprio existir. Exploraremos este conceito em maior detalhe posteriormente. Por ora, pode-se adiantar que, quando há essa inadequação com o ser aliada ao instinto de preservação, instala-se um tormento incessante de consciência. A realidade, então, transforma-se em uma prisão, sustentada pelo medo do abismo infinito da aniquilação. A alma, nessa condição, passa a manifestar uma forma desordenada de existência, incorporando sua inadequação de maneira profunda. Ao refletir sobre tal cenário, podemos projetar a possibilidade de a alma se lançar em um estado objetificado ou mesmo regredir a uma forma de existência irracional, semelhante à de um animal. Essa regressão representaria um retorno às origens primitivas de onde, em algum momento, a alma emergiu, simbolizando o reflexo de sua incapacidade de reconciliar-se com o ser. Para aqueles que não conseguiram alcançar um comportamento que, sob uma perspectiva eterna, seja suportável, ou seja, para aqueles que não conseguiram se libertar da complexidade que sobrecarrega sua existência, podemos imaginar um cenário distinto. Diferentemente das almas revoltadas, essas almas buscam consolo, procurando um corpo ou uma realidade benéfica onde possam se infiltrar enquanto continuam sua busca pela perfeição.

Após o momento exato da falência corporal, a alma, quando desprovida de confiança, transita imediatamente para outro corpo fictício. Este corpo simula suas propriedades enquanto ente, mas carece de um caráter eterno e definitivo em suas ações, pois traz em si a potencialidade da falência. Apesar disso, a forma fictícia permite ao indivíduo expressar sua vontade, ainda que de maneira limitada, já que não contém plenamente a realidade integral do ser. Em outras palavras, não permanecemos como um "nada" em termos de consciência. Nosso desejo atual, moldado por certezas e inseguranças de nosso comportamento, já nos direciona a um propósito, sem que seja necessária uma reflexão profunda em estado desmaterializado. O próprio instinto de sobrevivência torna isso possível. Nesse contexto, a "salvação", no sentido de continuidade da vida, é garantida a todos. Contudo, o mesmo não pode ser afirmado quanto à "salvação" relacionada ao estado adequado de consciência de cada indivíduo. Ou seja, nem todos alcançam uma plena adequação ao próprio existir. Alguns podem inclinar-se ao eterno, enquanto outros não encontram um sentido abrangente em sua existência.

O fruto Proibido

A ideia do infinito pode ser entendida como algo que nunca se manifesta plenamente na realidade física, mas existe em potencial. Enquanto o corpo material é finito e mensurável, o infinito pode se manifestar no campo dos sentimentos, como amor, saudade e esperança, através de sua intensidade imaterial e transcendental. Se não desta forma, a expressão do infinito é um todo mensurável e crescente, possibilitando que sua velocidade de crescimento também cresça infinitamente. Ao centralizarmos espirito e matéria, faz sentido pensar na expansão como uma liberação de gametas. Ou seja, a consciência somente pode crescer para fora de sua unidade pela multiplicidade. A verdadeira expansão do "eu" não ocorre fisicamente, mas espiritualmente, como uma multiplicação da consciência. Esse processo pode ser comparado à "liberação de gametas metafísicos", fragmentos que contêm a essência do ser e se espalham no universo. Porém, que só alcançam uma nova identidade ao se fundirem com outro gameta distinto. Dessa forma, o "eu" transcende sua própria materialidade em direção a uma conexão espiritual maior.

Sendo reflexos de Deus, possuímos uma potencialidade criativa semelhante à d’Ele. A concepção divina pode ser entendida como um "casal eterno" – a perfeita união entre homem e mulher em sua essência espiritual e bondosa. Em contraste, o amor humano, condicionado à imperfeição, carrega consigo tanto o risco do sofrimento eterno quanto a possibilidade de plenitude. A narrativa de Adão e Eva ilustra o desejo humano de se igualar a Deus através da sexualidade e do conhecimento. O "fruto proibido" simboliza não apenas um ato narcisista de auto envenenamento, mas subentende uma tentativa de gerar vida – uma imitação imperfeita da criação divina.

A união carnal entre homem e mulher traz consigo a dualidade de ser um "paraíso" ou um "inferno". Enquanto a geração de uma prole representa um ato de doação, um reflexo de um amor que tomou vida própria e repercurtiu pela eternidade, também cria responsabilidades eternas que desviam o foco do amor conjugal. A prole surge como uma extensão do amor do casal, mas, paradoxalmente, pode fragmentar a intensidade do vínculo entre os dois. Em contraste com a complexidade do amor humano, um amor angelical representaria a união pura e autossuficiente entre dois espíritos. Livre das responsabilidades de gerar vida ou cuidar de novos seres, o amor angelical consistiria na entrega total e incondicional entre dois seres, uma fusão espiritual que não dispersa energia. Para os anjos, a criação de um "novo ser" é vista como desnecessária ou uma "alquimia narcisista" que reflete a tentativa de ser como Deus.

Se, para os humanos, a procriação traz um amor exterior e direcionado à prole, para os anjos, o "orgasmo" espiritual é a fusão absoluta de dois seres, encerrada em si mesma. Esse amor, puro e egoísta, é um ato de totalidade e completude. E a malicia é negar a doação de si na procriação ao egoísmo de consumirem-se em si mesmos como casal e não como uma construção familiar. Neste contexto, a prole seria desejada quando a união entre duas pessoas é impedida por um corpo físico. A prole deste mundo, portanto, seria fictícia, um engano de que podemos realmente nos tocar fisicamente e emocionalmente. Este engano encontra seu consolo na visão de um ente externo portanto algumas de nossas características físicas que representaria uma união verdadeira de almas.

A malícia, do ponto de vista angelical, segundo a narrativa teológica, pode ser interpretada como uma violação à ordem natural de crescimento e multiplicação da vida. Nessa perspectiva, toda a energia é direcionada exclusivamente ao ente amado, interrompendo o ciclo natural da expansão da vida em prol de um amor absoluto e egoísta, que não deixa espaço para outro ser além do objeto desse amor. Enquanto a ordem divina é “crescei e multiplicai”, pois Deus deseja a continuidade da vida, a malícia, que está associada ao prazer sexual, reflete, para os anjos, o egoísmo de uma entrega total e autossuficiente, na qual o amor se consome inteiramente no outro, afastando-se do propósito expansivo da criação. Âmbos se fundem e formam um terceiro ser em si mesmos e não externos a si.

O verdadeiro amor, de um ponto de vista lúdico e expeculatório, transcende a compreensão racional, alternando entre o egoísmo absoluto e a generosidade altruísta do amor humano e sua abertura a um novo ser e cuidados para com este. O amor humano carrega riscos, pois exige a confiança em outro ser imperfeito e encarar face a face a indole do novo ser originado. Já o amor angelical, por sua perfeição, não se dividiria ou se dispersaria. Assim, cada alma deveria decidir entre a expansão através da prole ou a união espiritual total com outro ser – uma escolha que reflete a busca pela plenitude do amor. Considero esta uma questão indissolúvel do ponto de vista lógico. O que é realmente o amor? Está é a pergunta que resolveria a questão, a qual é de cunho subjetivo para cada indivíduo. É só o amor que conhece o que é verdade. Essas expeculações são as máximas que se pode extrair do ponto de vista humano. É certo que a alma é livre, mas o que as almas decidirão? O que será perfeito de de bom grado a cada um? Ao meu ver o amor permite que esta escolhe advenha de uma opinião pessoal. Ou seja, a escolha seria relativa a subjetividade de cada alma. Em ultima analise, me vem em mente que está questão pode ser completaente desnecessária no momento. Faria sentido realmente falar de uma sexualidade transcendental, sendo este um momento de reflexão que tem como palco o relacionamento com a vida e com nós mesmos? Pois é o relacionamento com a vida que decidirá realmente nossa eternidade no mundo presente.

O Narcisista e o Niilista

O narcisista é frequentemente descrito como um indivíduo com dificuldades significativas na convivência social, caracterizado por uma tendência a guardar rancor e nutrir ódio, seja pela sociedade em geral ou por pessoas específicas. Segundo a psicologia, o narcisismo é marcado por uma necessidade excessiva de admiração e uma falta de empatia, funcionando como uma forma de defesa emocional para esconder inseguranças internas (Miller, 1996, The Drama of the Gifted Child).

Por outro lado, o niilista é um indivíduo que se revolta contra si mesmo enquanto ser existencial, rejeitando a vida em todas as suas formas. O niilismo pode ser entendido como uma manifestação extrema de narcisismo, onde o indivíduo se desilude com a própria existência e nega qualquer significado ou propósito. Esse fenômeno é observado em transtornos como depressão profunda ou distimia (Beck, 1967, Depression: Clinical, Experimental, and Theoretical Aspects).

O narcisista tende a buscar reconhecimento através da acumulação de riquezas e da construção de uma imagem de superioridade. Ele procura validação constante de sua relevância social, mas ainda pode demonstrar solidariedade em situações de emergência, especialmente quando sua imagem está em jogo.

Em contraste, o niilista adota uma postura desiludida em relação à vida e às pessoas ao seu redor. Ele é incapaz de suportar a alegria natural dos outros, frequentemente manifestando comportamentos autodestrutivos. O niilista pode ser descrito como alguém que blasfema contra a vida e busca desacreditar o sagrado, em uma tentativa de compartilhar sua desconexão emocional e vazio existencial com o mundo (Nagel, 1971, The Absurd).

Muitas vezes, o niilista se declara ateu e nega qualquer sentido à vida, propagando uma visão pessimista que tenta influenciar outros a compartilharem sua desesperança.O niilista é, por essência, um indivíduo que busca isolamento até mesmo de si mesmo. Ele procura desconectar-se das emoções e da realidade, rejeitando inclusive as experiências prazerosas ou morais, que considera tentativas vãs de preencher seu vazio existencial.

O niilista rejeita qualquer traço de propósito ou significado na vida, conceitos que, para ele, revelam uma inadequação interna fundamental. Essa percepção gera um terror profundo, pois ele reconhece que sua existência é marcada por um abismo de falta de sentido. Essa angústia o impede de encontrar conforto ou estabilidade em experiências cotidianas. Seu comportamento diário é marcado por uma revolta direcionada a tudo que atribui valor à vida, como saúde, amizade, trabalho, religião ou qualquer ação ou pensamento que confere significado e importância à existência como algo precioso. As ações do niilista são caracterizadas por uma revolta, uma apatia, uma teimosia que busca desfigurar as coisas belas. Ele assume comportamentos de zombaria e hostilidade à vida, ridicularizando o que é belo, alegre e pleno de sentido.

Os niilistas muitas vezes se reúnem em bares, entregam-se à mendicância, envolvem-se no uso de substâncias ilícitas, cometem crimes, entre outras atitudes. Esses papéis sociais que adotam não decorrem de uma marginalização social,de uma fatalidade econômica ou de uma grave mazela moral, mas refletem sua postura interior de desprezo por tudo que é bom e belo. Ou seja, o comportamento não é fruto de um vicio, mas sim de uma firma decisão contra o existir, uma revolta interna direcionada a totalidade das coisas e não a um fato isolado. Portanto, diferentemente de alguem prisioneiro de suas paixões o nilista é na verdade um prisioneiro de si, revela sua frustração por ser fadado a existir contra sua vontade, tendo como punição de sua suposta libertação o abismo abissal da aniquilação. Enquanto o errante busca sua melhora o niilista busca a zombaria, a representação de seu estado interno de inadequação com seu próprio existir através de zombaria, revolta e auto flagelo.

Alguns teólogos da Igreja Católica definem o inferno como a ausência do amor. Em uma linguagem barroca, a Igreja supõe um conceito semelhante ao que chamamos de niilismo: uma alma em inconformidade com a existência, que, em si, seria Deus. Essa inconformidade, embora pareça complexa e repleta de razões, pode ser representada por uma premissa simples: diante da questão fundamental de ser ou não ser, devido à liberdade humana, pode haver uma intenção voltada para o "não ser", sem a necessidade de motivos reais para tal. Nesse contexto, podemos entender a personalidade do niilista como alguém que adota razões sentimentais para justificar sua posição, parecendo, do ponto de vista comportamental, uma pessoa que não sabe perdoar ou que é excessivamente sensível. A partir dessa visão distorcida, alimentada pela necessidade que o niilista tem de estabelecer um convívio social e justificar suas escolhas, torna-se impossível compreender o ponto de vista do niilista. A falta de perdão, ou um evento traumático, não é suficiente para gerar o pensamento niilista, que se fundamenta não em uma recusa a um fato isolado, como uma ofensa ou uma situação dolorosa, mas sim numa recusa cósmica. É uma recusa ao todo, e não à parte. O narcisista é movido pela recusa de uma parte, pela falta de aceitação de um fato ou acontecimento específico, enquanto o niilista vai além dessa visão. O narcisista carrega a paixão do ódio, fundamentada em um interesse natural pela vida, embora esse interesse tenha entrado em colisão com sua compreensão. Já o niilista é sustentado pela ausência de qualquer paixão ou desejo pela vida, vivendo em uma apatia completa da alma. O niilista tem um coração que não renasceu pela visão transformadora do amor.Se, para o narcisista, a falta de amor impede o perdão, para o niilista, a ausência de amor se reflete na recusa pela própria vida. O narcisista é alguém cujo amor não foi capaz de absorver tudo o que lhe acontece, nem compreender todos os comportamentos que o cercam. Ele vive em fragmentos, escolhendo o que aceitar e o que rejeitar, pois seu amor, embora presente, é limitado em sua capacidade de lidar com a totalidade da experiência humana. A vida nos apresenta toda a verdade, independentemente de sua forma, e cabe a nós aceitá-la com serenidade. O narcisista aceita apenas partes da vida, aquelas que se alinham com suas expectativas ou interesses. Já o niilista, por sua vez, recusa a vida por completo, negando qualquer sentido ou propósito que possa surgir de sua existência.

Quando confrontado com a ideia de eternidade ou propósito, o niilista experimenta um choque interior e um desespero profundo, alternando entre rejeição e resignação. Socialmente, ele tende a distorcer valores como trabalho, família e esperança, buscando ambientes onde sua visão blasfemadora encontre eco.

O narcisista e o niilista, embora diferentes em suas manifestações, compartilham uma desconexão emocional com a realidade. Enquanto o narcisista busca validação externa para mascarar suas inseguranças, o niilista rejeita a própria existência, tentando destruir qualquer vestígio de sentido na vida. Ambos exemplificam, em graus distintos, a complexidade do sofrimento humano e os desafios impostos pela busca de significado e propósito.

Em última análise, a partir da ideia da união de gametas dentro de um contexto metafísico, podemos nos aproximar da essência do que seria o niilismo. O corpo, ao ser gerado unido à alma, nasce como uma natureza indefinida em si mesma, embora marcada pela natureza que a originou. A alma, ao emergir para a existência, é viva, porém essa vida precisa corresponder a si mesma: é preciso que uma vida desperte dentro dessa vida. Isso ocorre quando ela se depara com a questão fundamental da existência, que é o encontro com o propósito abstrato de sua própria razão de ser. Embora o mundo externo já exista como "mundo", a visão individual sobre ele é construída a partir da observação e da experiência pessoal com a realidade. Ao entrar em contato com o campo das possibilidades e dos acontecimentos, o indivíduo pode, então, definir seu sentido interior. Em outras palavras, cabe a ele decidir se nascerá ou não um amor genuíno pela vida, mediante a observação, vivência e convivência com outros que integram a totalidade de sua experiência social. O indivíduo é, portanto, uma consciência que se dá a si mesma uma natureza arbitrária, coexistindo com sua natureza original e eterna. O niilista, nesse contexto, é aquele que não desenvolveu um amor capaz de fazê-lo enxergar o lado positsuivo da vida como algo que compensa as sombras e os sofrimentos. Sua índole não é necessariamente maléfica, mas carece da força motriz do amor. Em vez de um sentido que lhe permita levar a vida de forma leve e resiliente, ele se molda conforme regras sociais e emoções primitivas, sem um impulso autêntico que o guie. Não existe, portanto, um mal em si, mas sim a ausência do amor — a ausência de um sentido que conduza a vida eternamente para algo maior. O orgulho, nesse contexto, nada mais é do que uma ferida sem cura: um acúmulo de acontecimentos trágicos cuja raiva foi preservada e cristalizada. Isso resulta em uma personalidade fictícia, moldada por memórias não trabalhadas e afetos não resolvidos. Sem o amor, o corpo torna-se austero, rígido e extremamente egoista. Emoções como raiva, ira e falta de compreensão passam a predominar na ausência da força transformadora do amor. Quando guiado por essas emoções inferiores, o ser humano se torna um indivíduo dominado pelo orgulho, potencialmente perigoso, e um receptor passivo de acontecimentos negativos, sem um meio para dissipá-los. Somente o amor pode atuar como esse consolador e dispersor, trazendo alívio e clareza às ideias. Sem o amor que é o movimentar da alma diante da visão da vida, temos portanto, uma consciencia primitiva, que tende a retroceder a si ao invés de caminhar em direção ao todo.

Aumentar o amor a ponto de atingir um comportamento que se mantenha eternamente suportável não significa privar aspectos da própria personalidade em função de um bem maior. Pelo contrário, significa aceitar a totalidade para atingir a verdadeira potencialidade da nossa personalidade. A auto proteção é um aspecto inerente a todos ser, ou seja, a auto preservação de toda forma existe, o niilista também a possui por natureza. O amor é apliar as possibilidades ante a mesma auto preservação. O amor pode ser concebido como uma linha vertical que vai da ausência completa à intensidade ilimitada. Simultaneamente, há uma linha horizontal que representa as tendências da personalidade do indivíduo. Quanto mais a linha vertical do amor se amplia, mais a linha horizontal da personalidade se expande em conjunto, enriquecendo o campo de possibilidades do ser. Amar é aceitar a realidade, não mudar a personalidade. É possível manter comportamentos desordeiros ou imperfeitos e ainda assim estar em harmonia. Imaginemos que, ao atingir um amor ideal, seja possível retornar a um mundo de erros recorrentes — mas agora por escolha consciente e não por recusa em aceitar a totalidade, ou seja, por liberdade e não por negação do todo. Ampliar o amor significa expandir o horizonte de possibilidades, não boicotar a própria personalidade. O aspecto fundamental da personalidade humana é a autoconservação, uma qualidade inerente à nossa existência. Entretanto, o paraíso representa a aceitação plena de todas as possibilidades, enquanto o niilismo se manifesta como a recusa da totalidade, ainda que mantendo a autopreservação. Porém, no niilismo, essa preservação se limita apenas ao ato de sobreviver. O niilismo pode ser visto como o nível mais primitivo de amor à vida. É a condição de um indivíduo que, ao entrar em contato com a beleza do todo, não experimenta emoção alguma, nem desperta em si qualquer sentimento de gratidão ou sentido verdadeiro no que lhe foi dado. Para o niilista, existir é uma obrigação, uma ordem imposta por quem o criou. Em sua mente, ele obedece à vida em vez de vivê-la, pois percebe sua existência como algo forçado, um fardo a ser carregado. O niilista é, portanto, uma consciência que não foi nutrida pelo amor. Seu interior permanece imóvel, intacto, incapaz de se comover ou se tornar vibrante diante do vasto campo das possibilidades que a vida oferece. A alma niilista é um boneco consciente. Sua personalidade não se expressa, pois é o amor que abre o campo de expressão. Expressar-se exige romper as barreiras da aceitação e absorver o todo. Podemos comparar isso a um pássaro: ele precisa aceitar a si mesmo para viver e aceitar os céus para voar. Assim, a autoconservação não limita a personalidade; o que a limita é a recusa do campo de possibilidades que o existir oferece. A não aceitação não é uma substância. O ódio, por exemplo, é apenas a ausência de amor. O niilista configura sua personalidade à mercê da natureza instintiva, como uma roda solta que sempre pende para o lado mais baixo da superfície. Seu orgulho o conduz às mesmas emoções de qualquer outro niilista. Em contraste, a alma que ama segue as propensões genuínas de sua personalidade. Assim, o narcisista é alguém de pouca personalidade, enquanto o niilista se assemelha a um boneco movido por tendências primitivas. Ele é guiado pela ausência de significado, resvalando no egoísmo, no orgulho, no escárnio e na vingança. O amor, por sua vez, é o motor que libera o verdadeiro potencial da personalidade e expande o horizonte de possibilidades humanas. Aceitar completamente o campo das possibilidades não é sobre o que não se pode fazer, pois o que não se pode fazer faz parte da auto preservação que existe até para os niilistas. Ou seja, não se destruir já é parte fundamental da personalidade, portanto isto não se altera para a alma niilista ou para a altruista. Aceitar o campo das possibilidades significa explorar a potencialidade da alma em sua máxima amplitude. Em outras palavra, o niilista é apenas uma crianção que não aprendeu a amar. Enquanto a alma plena é uma criança que coincidiu sua vontade com o que lhe foi dado que é a vida. O altruista deseja justamente aquilo que tem em si e diante de si, e isto é o paraíso.

O niilista, vazio de amor, é guiado por uma ilusão que lhe proporciona prazer, semelhante ao efeito de uma droga. Ele se imagina em uma posição superior, erguendo-se em um patamar de grandeza que alimenta sua euforia. Nesta ilusão, ele acredita ser um Deus, um ser absoluto. Contudo, essa fantasia o distancia dos outros, criando um isolamento profundo. Quando alguém ousa questionar essa ilusão, o niilista é tomado por uma imensa ira, como se sua fonte de prazer estivesse sendo destruída.Se, por acaso, um amor surgir em sua vida, ele sente-se despertando, como um bebê que, antes de chorar, não recebeu os primeiros tapas do médico para enxergar a realidade. O niilista vive, na verdade, em uma prisão mental, onde o imaginário se torna sua única existência. Este conceito não se relaciona a uma matriz externa, mas sim à construção interna de sua mente, que se transforma em seu habitat. O mundo da imaginação permite a ele experiências ilógicas, e é nesse prazer ilusório que ele se aprisiona.Afastando-se da realidade do Ser, o niilista busca refúgio em sua imaginação, onde pode ocupar o lugar de um Deus. Essa imaginação se torna um vício; ele se satisfaz com ela, ainda sem ter despertado para a verdadeira vida. Não deu seu primeiro choro em direção à realidade, não recebeu o estalar que abriria seus olhos para a percepção.O niilista cria uma realidade de auto-simulação em sua mente e resiste a qualquer tentativa de despertar. Tudo que representa a normalidade, a lógica e as possibilidades o assusta e provoca grande aversão. O caminho da imaginação parece mais atraente para aqueles que carecem da força motriz do amor, que é capaz de levar o homem a superar seu egoísmo, suas dificuldades e a olhar para a vida e para o próximo. Na mente do narcisista, nada lhe desagrada; ele habita um mundo perfeito, onde nada se opõe à sua vontade. Nesse universo fictício, o niilista é o Deus absoluto, e as pessoas se tornam suas súditas. Comportamentos sociais e a sobriedade afastam essa ideia ilusória, provocando nele um ressentimento profundo. A maior tentação é a vaidade que permite a imaginação conservar. O narcisista também faz um uso abusivo da imaginação, porém, se caraceriza como um vício, não como uma negação completa da realidade.

Amar é sonhar. Quando não se sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve. O narcisista sempre percorre o mesmo caminho, pois não tem desejo. Não nascem em si um sonho. Um desejo ardente pela realidade.

A maior tentação do ser humano, portanto, não é a sexualidade, mas sim a imaginação. Se fosse a sexualidade, o niilista teria uma vida descontrolada nesse aspecto. Em vez disso, sua maior sedução reside na capacidade de idealizar a si mesmo como uma figura grandiosa, o que lhe confere uma autoestima alimentada como uma criança se nutre do leite materno. Ninguém pode abalar essa posição de poder, e quanto mais elementos da realidade corroboram essa autopercepção, maior é o seu deleite. É por isso que os ricos se esforçam para preservar suas riquezas. Qualquer ameaça a essa ilusão provoca-lhes uma ira profunda, pois seu único prazer reside na fantasia que construíram. Com isso, não restam amizades genuínas, vínculos verdadeiros ou um trabalho que realmente os satisfaça. O niilista direciona todos os seus esforços para manter e sustentar sua autoimagem de poder, tratando essa construção como um vício, semelhante ao uso da mais potente das drogas. Até mesmo substâncias ilícitas podem servir para reforçar essa posição imaginária de domínio, alimentando ainda mais sua fuga da realidade.

O narcisista, em sua busca incessante por grandeza, frequentemente adota uma postura agressiva em relação às pessoas ao seu redor. Ele constrói para si uma ilusão de superioridade e se irrita profundamente quando essa imagem idealizada é questionada ou ameaçada. Por outro lado, o niilista direciona sua destrutividade para si mesmo e para tudo o que o conecta à realidade, rejeitando os valores e a sacralidade que ela representa. Em certo sentido, o niilista pode ser visto como um narcisista em sua forma mais extrema. Ele não apenas deseja ser maior que o outro, mas aspira superar até mesmo a própria existência, negando sua condição de ser vivente. Na mente do niilista, ele se imagina não apenas como um deus entre homens, mas como um deus acima de toda a existência. Não satisfeito em reivindicar soberania apenas sobre o outro, o niilista deseja controlar a própria realidade e a essência do ser. Seu orgulho o afasta da humanidade e, para sustentar essa fantasia, ele precisa renunciar à verdade. Sua negação da realidade o conduz a uma existência baseada na falsidade, onde não há espaço para um sentido autêntico. Enquanto o narcisista busca estabelecer uma diferença entre si e o outro, muitas vezes de forma agressiva, o niilista leva essa confrontação a um nível mais profundo. Ele ataca a si mesmo, consciente ou inconscientemente, uma tentativa de negar sua própria essência e sua conexão com o real.O niilista é frequentemente caracterizado por um padrão de autodestruição sutil, manifestado em comportamentos que, muitas vezes, passam despercebidos pela sociedade. Exemplos disso incluem o uso habitual de cigarros, a ingestão de substâncias cancerígenas, a procrastinação em questões sociais e lutas coletivas, o abuso de drogas, a direção imprudente no trânsito, entre outros atos que não podem ser atribuídos apenas ao descuido ou à impulsividade. Essas ações refletem uma tendência mais profunda e deliberada: o desejo de eliminar aquilo que o conecta à consciência de sua própria realidade. Para o niilista, essas atitudes são manifestações de uma recusa em aceitar sua condição de ser vivente, uma tentativa de silenciar a própria existência que o impede de satisfazer o orgulho de imaginar-se acima até mesmo de si próprio.

Por esta nova ótica, não há o certo e errado para "entrar" no paraíso. O paraíso é uma posição dentro de nós diante do existir.

A vinda do Messias

Do ponto de vista lógico, é plausível conceber que Deus pudesse se fazer homem e habitar este mundo. Contudo, qual seria o verdadeiro significado da salvação em tal contexto? Podemos inferir que o niilismo, ao agir de forma profanatória, feriu o tecido sagrado da realidade. Assim como um ato destrutivo, como cuspir no rosto de alguém, carrega um impacto emocional profundo, o niilismo violou a sacralidade da natureza, deixando uma mancha que entristece todo o cosmo. A restauração dessa ferida só poderia ocorrer através da manifestação plena do amor, algo capaz de reintegrar a harmonia original do universo. Nesse sentido, a salvação assume uma dimensão emotiva, sendo um retorno à alegria primitiva da existência, anterior à violação causada pelo niilismo. Não é necessário negar o "Jesus histórico" para aceitar essa ideia; a possibilidade de salvação está enraizada em uma narrativa que transcende o aspecto puramente racional, conectando-se à experiência humana. Porém, é intrigante imaginar como um Ser de natureza perfeita, incapaz de errar, enfrentaria os desafios de habitar um corpo humano e viver em sociedade. Como Jesus, sendo intrinsecamente perfeito, teria se adaptado às limitações da forma humana e aos desafios emocionais e sociais do convívio com outros seres humanos imperfeitos? Como Ele reagiria ao presenciar as falhas da humanidade, e até que ponto a interação social poderia ser emocionalmente confortável para Ele? Essas questões ampliam a nossa compreensão sobre a vinda do Messias e sua missão entre os homens.

Dentro de uma compreensão mais profunda, podemos conceber que Deus, sendo imortal e possuindo uma natureza única e imutável, pois existe de forma absoluta e natural, talvez não tenha experimentado a adaptação à forma humana como nós experienciamos. Jesus, nesse sentido, pode ser entendido como uma consciência tão transparente e abrangente que permeia todo o tecido da realidade. Contudo, ao assumir um corpo humano, Ele incorpora um "eu" pessoal e particular, dotado de tendências, memória e liberdade de escolha. Essa dualidade — entre sua natureza divina e sua experiência humana — poderia gerar uma personalidade que busca soluções para os conflitos internos próprios dessa condição. Ora, Jesus poderia expressar comportamentos de extrema rigidez moral em determinados momentos refletindo um conflito interno pela obrigatoriedade de um comportamento imutável, enquanto, em outros, poderia apresentar atitudes aparentemente desordenadas, como parte de um esforço para se adaptar à liberdade humana. Além disso, Ele também manifestava equilíbrio e harmonia, refletindo uma compreensão mais elevada da existência. Em uma visão idealizada, podemos imaginar que seu olhar refletia o infinito, seu sorriso irradiava uma leveza e um brilho natural que fascinavam todos ao seu redor, e sua voz transmitia um conforto inigualável, tornando sua presença indispensável onde quer que estivesse. Como Deus, no entanto, Jesus se adaptaria melhor como espírito. Sua natureza divina transcende o ego e abrange toda a criação, tornando-se a totalidade. Em outras palavras, o corpo de Jesus é uma manifestação temporária, enquanto seu verdadeiro ser se revela de forma autêntica como espírito. A personalidade de Jesus não se limita a um "eu" específico; ela compõe o todo. Deus é a consciência mais pura, desprovida de um ego individual, para abarcar tudo que existe. Dessa forma, o corpo de Jesus transcende a materialidade e se manifesta como espírito. Ou seja, o espirito seria a forma original de Jesus, pois o espirito é um estado de um Eu completamente transparente em seu Eu para que assim se e manifeste no todo. Essa realidade nos apresenta três dimensões unificadas em uma única essência. Jesus, como homem histórico, após sua morte, retorna como espírito e se eterniza como o Verbo — o Ser. Assim, compreendemos a Trindade: a união de Deus, o Espírito e Jesus, em uma única realidade. Jesus manifesta sua total liberdade no homem. Pois é a realidade que compoe todos os seres. Desta forma há uma integração de forma que o homem busca sua plenitude em ser em Deus e Deus encontra a Si no homem como um ente individual. Ambas as partes se conectam de forma a obter uma integração. O homem alcança a potencialidade de um deus através do exercicio do amor que é a busca pela vida e Deus alcança a liberdade de um homem indo de encontro a esta busca.

O homem não pode alcançar a completa transparência de consciência como Deus, pois isto seria aniquilá-lo. Porém, Deus pode se manifestar plenamente na materialidade do homem, imergindo em seu íntimo e proporcionando-lhe luminosidade; essa luz é o reflexo de Deus que, colidindo com o "eu" de um homem, reflete-se a partir dele, aumentando sua beleza. Ou seja, encontramos duas limitações que, fundidas, tornam-se a completa liberdade. Ao passo que o homem não pode esvaziar-se completamente de si, Deus pode fazê-lo no homem. E, ao passo que Deus não pode ser livre para mudar sua natureza, o homem pode fazê-lo e, se escolhe estar em Deus, permite a Deus ter uma natureza livre.

O purgatório

A ideia de purgatório transcende o tempo físico, vinculando-se ao estado de transformação da alma. Sua duração não é medida por minutos ou séculos, mas pela intensidade da resistência da alma à mudança. Assim, quanto maior a aversão à purificação, mais prolongada e árdua será essa jornada. Se uma alma necessitar de "uma eternidade e meia" para superar sua revolta, assim será. Nesse contexto, o tempo deixa de ser cronológico e passa a ser reflexo da necessidade espiritual de evolução. A percepção de um "tempo infinito" pode emergir de uma resistência igualmente infinita à transformação, revelando que o tempo do purgatório é tão vasto quanto a própria alma. A permanência no purgatório não está vinculada a um tempo físico, mas sim ao estado de transformação da alma. Em outras palavras, a duração da purificação depende da intensidade da resistência da alma à mudança. Se um indivíduo for profundamente resistente à transformação, sua estadia de purificação será igualmente mais prolongada e intensa. Caso precise de uma eternidade e meia para superar seu sentimento de revolta, essa será a duração de sua purificação. Assim, o tempo no purgatório passa a refletir a necessidade da alma de se purificar. Isso implica que, se a resistência da alma à mudança for infinitamente grande, ela poderá experimentar uma percepção de tempo igualmente infinita, já que o tempo, nesse contexto, é mensurado pela necessidade de transformação espiritual. Ou seja, a ideia de purgatório está mais associada a resisencia ao campo das possibilidades do que ao tempo. O paraíso, portanto, parece ter uma linha abstrata entre a aceitação da vida e a completa perfeição. Ou seja, se a completa perfeição demorasse um tempo infinito, e mesmo assim existisse um paraíso vindouro, então teriamos que a busca pela perfeição sempre será um processo continuo.

O Purgatório é um período de profunda integração com o universo. Nele, ganhamos uma sensibilidade ampliada, compreendemos o propósito de cada ação e enxergamos o que permaneceu oculto. As consequências de nossos erros se tornam evidentes: cada lágrima que causamos, cada dor ignorada, e cada sofrimento oculto que provocamos são revelados. Nesse processo, as almas permanecem por vontade própria, pois o Purgatório é um ambiente riquíssimo de aprendizado. No entanto, as almas resistentes, que rejeitam esse momento, manifestam desde cedo sua rebeldia, perdendo a oportunidade de crescimento.

O paraíso

Humanamente, é impossível atingir a perfeição comportamental. O ser humano é um turbilhão de emoções incontroláveis. Ao seguirmos um modelo de regras, estaríamos incorrendo novamente em um erro, pois amar é analisar, sob o ponto de vista racional, a melhor escolha em cada ocasião distinta. Porém, é possível alcançar um sentimento sincero, uma intenção genuína de fazer o melhor.

O fato de escolhermos viver fora de nosso verdadeiro ser, ou seja, de nosso "em si", pode ser considerado um estado de autopunição, pois isso significa viver sob uma máscara, distante das verdadeiras possibilidades. Encarar Deus face a face é, simultaneamente, encarar a nós mesmos face a face.

A libertação das regras é essencial. As regras, embora necessárias em nossas vidas cotidianas, existem principalmente para preencher a falta de amor. Elas atuam como compensações, uma tentativa de preencher um vazio que só pode ser preenchido pelo amor genuíno. Assim como um corpo limitado tenta se organizar para dar significado à existência, as regras tentam controlar o que deveria ser guiado pela liberdade do amor. Elas são, de fato, limitações temporárias diante da vastidão do amor divino.

A perfeição, portanto, não está em seguir um conjunto rígido de regras. Ela está na liberdade de nos libertarmos do perfeccionismo, que é, talvez, uma das maiores falácias humanas. O perfeccionismo é, na realidade, uma simulação do amor. Ele tenta imitar o que o amor já faz espontaneamente em sua pureza. O amor não precisa de regras, pois tem em si mesmo um sentido e uma ordem. Ele é a fonte de todas as virtudes, como nos ensina Santo Agostinho ao dizer: "O amor é a raiz da verdadeira liberdade" (Confissões, XIII, 9).

Assim, alcançar o paraíso não é um fim abstrato, mas uma experiência vivida. O paraíso é ter nosso coração como único guia, permitindo que ele se abra para os outros e para a vida. Compreender o amor não é uma questão de seguir regras, mas de vivê-lo na experiência cotidiana, como o mestre Jesus nos ensinou em Sua vida e em Seus ensinamentos. Ele nos chama a amar não pela obediência a regras externas, mas pela transformação interna do coração.

A compreensão do que é o amor, portanto, é muito mais simples do que as abordagens rígidas que a vida religiosa ou a moral humana costumam impor. O que parece mais sensato: seguir regras metódicas que prometem levar à perfeição, ou olhar para aquele que está sofrendo e oferecer um pouco de compaixão? O verdadeiro amor está em responder às necessidades do outro com generosidade, não com cálculo, mas com um coração que sente e age. Em vez de buscar a perfeição comportamental, buscamos a perfeição do coração.

A generosidade, nesse contexto, é mais poderosa do que a perfeição comportamental. A generosidade não segue regras; ela simplesmente emerge de um coração aberto ao outro. Quando se trata de salvar alguém de uma dor ou desespero profundos, como um suicídio iminente, é a generosidade de um gesto, a liberdade de uma conversa, a sinceridade de um olhar que pode salvar uma vida. Como disse São Vicente de Paulo: "A caridade é o único amor que podemos dar sem esperar nada em troca, e é isso que transforma o mundo" (Conferência sobre Caridade, 1635).

Se você for capaz de medir o quanto de amor há em salvar alguém de um sofrimento profundo com uma palavra encorajadora, com um ato de cuidado, você certamente se libertou de todas as regras. Nesse sentido, a liberdade de ser plenamente quem somos está intrinsecamente ligada ao outro. É no outro que encontramos nossa verdadeira identidade, como nos ensina Santo Tomás de Aquino: "A verdadeira liberdade é a capacidade de escolher o bem, e o bem é o amor" (Summa Theologica,I-II, q. 1, a. 1).

A árvore dos amores infinitos

Reza a lenda que um casal, que vivia numa terra fantástica e mágica, descobriu, um no outro, uma eternidade. Seu amor queria transcender, ser verdadeiro. Então, se direcionaram a arvore da vida. Está arvore era guardada por um dragão. O dragão queria destrui-los, pois seu fogo queimava os que tentavam pegar o fruto. Porém, estavam sendo motivados por um verdadeiro amor e o fogo do dragão nos os queimou. Porém, o dragão advertiu que não deveriam experimentar, pois morreriam. Mas diziam que queriam se tocar e se conhecer verdadeiramente, pois queriam ver um ao outro face a face, queriam estar nus diante um do outro. Então comeram da maça proibida, e morreram. Uniram-se eternamente. E o amor deles se transformou em numerosos filhos. Morreram para si, entregaram-se um ao outro. Tornaram-se um. Ao unirem-se eternamente, conheceram o bem e o mal e foram chamados a uma missão eterna. Zelar pelos filhos que geraram. Esse casal era o próprio Deus. Como Deus é bom, já possibilitou a adão e eva, os primieros seres humanos, a experimentar o paraíso, e estes, ao invés de agir por bem, se dirigiram até a arvore da vida. Eram, niilistas ambos, e representaram o restante da ação da humanidade. Comeram do fruto proibido, sem que tivessem um verdadeiro amor um pelo outro, querendo ser Deuses. Pois queriam se unir verdadeiramente. Queriam dar origem a uma nova criação ao invés de evoluir e continuar a missão que Deus conceceu a eles. Então morreram. Destruiram a linhagem que Deus os designou. Foram lançados neste universo atual e perderam suas propriedades mágicas. Destruiram o plano inicial da criação. Deus, quando viu isto, ficou furioso. Como um ato representativo, puniu o dragão guardião da arvore o responsabilizando por não avisar as consequências do fruto. O retirou as asas, e o transformou num réptil rastejante. Deus confiou o primeiro universo ao homem pois ainda desconhecia sua indole. O que faria uma nova criatura voltada a uma beleza infindável diante de si? Deus confiou que não poderia existir alguém que recusasse isso. Seus filhos, imperfeitos, renasceram em uma realidade adversa, primitiva, que era um ambiente agradável para a pior potencialidade que poderiam desenvolver, que é a ausência do amor. A árvore da vida ainda existe, e nenhum dragão a protege, porém, somente os amores verdadeiros, que são em si o pior dos venenos, pois leva até mesmo a morte um pelo outro. Uma amor que supera a própria morte é prova definita que um fora feito para o outro. Se os dois morreram em amor, é prova definitiva que deverão se unir para sempre. Deus nos originou, portanto, a partir do nada que era Ele. O Nada representa o Ser em potencial. Ele nos deu a vida, maculou o cosmos com nossa imperfeição e mergulhou na imperfeição que iriginou, em forma carnal, restaurando o estado original das coisas por meio de um amor arrebatador. Adaptou o universo ao erro, pois o erro traz novas vidas, e cada nova vida é, em si, uma nova forma de amor. Deus assumiu a responsabilidade pela sua criação, pela sua prole, seus primogetinos. Deus se fez o primeiro homem e nomeou a primeira mulher para refazer a história da humanidade. Seu poder de criar novos universos e nos dar novos corpos é infinito, porém, a ordem e a dignididade do absoluto precisava ser restaurada. O homem, nem mesmo foi capaz de ser o progenitor da humanidade, tarefa que Deus havia lhe confiado, portanto, somos tão dependentes de Deus que foi necessário o próprio Deus fazer este papel. Deus, portanto, se fez homem neste universo para restaurar a harmonia inicial. Um novo universo como o anterior será criado, sem o niilismo. Ninguém comerá da árvore da vida sem que tenha um amor genuino.

O paraíso lúdico

A Ressurreição Final marca o advento de um novo universo. Todos têm acesso a esse novo universo, que oferece corpos temporais ou não, possibilitando a evolução mesmo com pecados veniais e a experiência da morte. Isso inclui ciclos como a reencarnação, que permite o renascimento sob novas condições e laços familiares para novos aprendizados. O ciclo continua, e o corpo dado por Deus é visto como parte integrante do universo, colaborando continuamente para nossa evolução. Esse novo universo será buscado pelas almas quando o atual estiver em ruínas, quando sua luz se extinguir e a metafísica neuronal deixar de fluir. Quando o universo morrer, um novo surgirá – um paraíso. Este paraíso se adaptará ao nível de cada alma: desde as que ainda estão presas ao ciclo de reencarnações até as que alcançaram a imortalidade. As possibilidades são infinitas. Receber um corpo nesse novo universo remonta à ideia de Adão e Eva, que foram protegidos por uma graça especial contra o erro – possivelmente, essa proteção era o próprio corpo glorioso. Assim, o novo universo será um retorno a esse estado de harmonia inicial. Contudo, diferente de Adão e Eva, não haverá espaço para niilistas nos corpos gloriosos. A queda de Gênesis, quando Adão e Eva tentaram ser maiores que Deus, não se repetirá. O pecado, nesse sentido, será impossível. Esse novo universo será repleto de fantasia, emoção e magia. Será um lugar onde a saga infinita pela perfeição terá um novo início, agora em máxima potência.

Vamos imaginar um cenário que poderíamos chamar de paraíso, mas reinterpretado como um mundo repleto de potencialidades incríveis. A teologia sugere que o purgatório ainda conserva a propriedade do tempo, o que o torna um estado material de purificação. Segundo esta visão, no final dos tempos tudo será transformado, e nenhuma alma permanecerá nesse estado intermediário.

Com um olhar otimista, podemos imaginar este paraíso como um universo harmonioso, onde todas as almas desempenham papéis distintos, mas colaborativos. Este cenário permitiria a existência de magia, onde palavras e objetos poderiam ser manipulados de formas que transcendem as leis naturais conhecidas. Corpos neste mundo teriam a capacidade de realizar feitos mágicos, e uma nova árvore genealógica reintroduziria almas de outros mundos ou ciclos. A reprodução, nesse contexto, não seguiria as regras que conhecemos. Ela serviria como um mecanismo de reencarnação, permitindo que almas vivenciassem novas experiências. É incerto se Deus criaria novas almas ou se o ciclo das almas se perpetuaria, mas o foco seria no aprimoramento e na evolução espiritual.

Neste mundo, as almas que atingissem a perfeição superariam as leis mágicas, tornando-se capazes de desencarnar e reencarnar à vontade. Por outro lado, almas niilistas, que rejeitam a evolução, se tornariam entidades das trevas, assumindo formas de animais ou objetos. Essas almas buscariam incomodar as esperançosas, refletindo seu desespero e conflito interno.

Para almas niilistas, incapazes de buscar a perfeição, a visão da eternidade é insuportável. Essas almas niilistas rejeitam a ideia de um corpo com um propósito maior, pois encaram a inadequação de si mesmas frente a um tempo infinito. A luz da vida, refletida nas trevas, obriga essas almas a confrontarem sua existência, o que as leva ao isolamento ou à autodestruição. Se essas almas quisessem renascer neste mundo, isso ocorreria sob condições especiais, como a ausência de sentidos que as conectassem à eternidade, uma tentativa de mitigar seu profundo assombro diante da realidade espiritual. Neste contexto, a consciência de eventos fantásticos seria um tormento para elas, reafirmando seu estado niilista.

O mal neste mundo se manifesta de formas diversas — como objetos, animais ou espíritos — contribuindo para o aprendizado e a evolução das almas. Anjos, neste cenário, são almas que atingiram a perfeição, sendo invocados para combater as trevas, que são a expressão das almas niilistas em rebeldia.

O paraíso pode ser comparado, de certa forma, a um universo paralelo similar ao de Harry Potter, onde a jornada mágica de crescimento leva a uma busca pela perfeição. Se este mundo é um lugar de purificação, é possível que o outro também o seja, como um espaço onde a transformação ocorre. Talvez, um novo universo, com suas próprias regras e leis físicas, esteja se formando dentro de um buraco negro, sendo o ponto de origem de um cosmos ainda em preparação. Você pode não acreditar em magia, mas, se neste momento é capaz de levantar o braço, está, na verdade, manipulando um complexo fluxo energético com o poder da sua mente. E isso, de certo modo, não seria magia? Se você acredita no livre-arbítrio, também está acreditando em magia, pois o livre-arbítrio é, neste mundo, a capacidade de mover energia através do poder espiritual. O limite de ação sobre o nosso corpo, afinal, é determinado pelas leis do universo, não pela nossa vontade.Neste mundo, a magia é chamada de milagres, pois seu propósito é ensinar o amor. No outro mundo, o que chamamos de paraíso, talvez a magia não seja exclusiva dos milagres ou da manifestação do Jesus histórico. A busca pelo amor e pelo sentido, que é um objetivo reflexivo neste mundo, pode ser encarada com maior flexibilidade e leveza. Assim, a magia se torna parte integrante da essência e da emoção da vida, permeando não apenas as experiências espirituais, mas também as profundezas da existência humana.

Em um mundo mágico, o tempo de vida seria relativo ao grau de perfeição do indivíduo; para o ser perfeito, não faria sentido morrer, pois suas ações não causariam sofrimento que o impedisse de suportar uma existência prolongada.

A descrição do paraíso, quando unida à narrativa da árvore proibida, apresenta paralelos interessantes com o cenário vivido por Adão e Eva no Gênesis. No Éden, eles só perceberam que estavam nus após comerem o fruto proibido. A partir daí, foram condenados a experimentar dores e trabalhos árduos, entrando em um mundo desprovido de magia e repleto de desafios. Se Adão e Eva possuíam uma graça especial que os protegia do pecado, essa graça pressupõe que possuíam corpos. Com a queda, a fragilidade desses corpos os expôs a novas experiências, permitindo-lhes explorar plenamente sua humanidade, incluindo a capacidade de amar profundamente. Quanto à reprodução, é possível imaginar três hipóteses: A ocorrência de almas reencarnadas que retornam devido a falhas ou erros passados. Almas geradas por outras almas, através de vínculos espirituais ou de amor. Almas criadas diretamente por Deus, de forma única e divina. Dessa maneira, a sexualidade poderia ser expressa de formas diversas, refletindo não apenas a reprodução física, mas também conexões espirituais profundas.Considerando que, segundo a doutrina teológica, o número de eleitos é limitado, as almas poderiam ser reincidentes no mesmo mundo ou originadas de amores infinitos e eternos. Isso garantiria a preservação de uma genealogia espiritual única, formada pelos filhos da primeira linhagem divina de Deus. Ao imaginar o purgatório e o céu como um mesmo local, as almas poderiam experimentar uma alegria ainda maior, tendo à disposição todas as experiências proporcionadas pela interação entre os seres. Essa convivência permitiria um fluxo contínuo de aprendizado e evolução, não apenas individual, mas coletiva. As almas, assim, seriam destinadas a uma missão eterna: estabelecer uma relação de ajuda mútua, promovendo a evolução espiritual conjunta como um ato de união divina. A sexualidade, na terra, é voltada para uma entrega á vida. Semelhante a Deus o homem e a mulher usam o infinito que emana de si para popular, para dar vida ao todo. Podemos utilizar a ídeia de que os gametas possam também ser direcionados para um ao outro. Ou seja, cada um ligará o que se expande para o infinito no corpo um do outro. Ou seja, um alimentará ao outro ao invés de alimentar o mundo com mais vida. Um experimentará a essencia do outro, sem ceder essa essencia ao todo como um ato de produzir vida. Dessa forma, podemos imaginar uma sexualidade direcionada ao amor e não a popular o universo. O homem tem aspiração a produzir novas vidas, porém vidas que se vão e não se tornam mais suas. Desaparecem no infinito e seguem seu caminho em busca da perfeição. Ou pode ser que tenha aspiraçao de ter filhos eternamente seus. Gerados de si. Tudo será conforte a realização máxima do individuo conforme o amor lhe guiar. Porém, num lugar de paz extrema, onde se pode conectar com outra pessoa de uma forma profunda e abundante. Quem em sã consciencia iria querer gerar filhos reais, de si, os quais encessitam de evolução espeiritual e desviam a atenção do verdadeiro e intenso amor que se pode estabelecer por ali, ambos conectados em uma imensa e inabalável paz. A possibilidade de gerar filhos com genes próprios é real. Pois o ser humano não pode ser privado de suas propriedades. Porém, segundo a teologia, não haveria alguém em sã consciencia que optaria por isso diante da magestade da vida no paraíso. Por uma visão humana somos conduzidos a reprodução, pois este é o instinto associado a nossa sobrevivencia como especie, porem, qual opinião seria sem estarmos sujeitos a instintos primitivos? Ambos os amores, que se conectam pelos seus infinitos, que implodem seus infinitos um no outro ao invés de eclodirem, experimentam o amor como um novo ser nascendo um dentro do outro. E este amor jamais morre. Se renova como um terceiro ser formado de ambos por toda a eternidade. Tornam-se um só. E este novo ser gerado do amor, não parte para longe e nem torna-se real fora deles. Está seria uma idealização interessante para quem não deseja filhos. Para quem deseja, seria interessante pensar em ser eternos pais. Essa questão é relativa as realizações de cada individuo. Ao unir o infinito fora de si, ou seja, despejar a si nos ares, para que este si torne-se outro vemos um ato de altruismo assim como Ser a realiadade que todos particiam como Deus. Então, podemos também visualizar que, pode haver mais formas de sexualidade no outro mundo que transcendem nosso entendimento e que nos conectam com o outro de uma forma profunda e jamais sonhada por nós. A qual poderia nos satisfazer de uma forma muito mais poderosa, e sanar todas nossas aspirações. São inumeras as opções que podemos imaginar. Não há limites para as possibilidades, desde que sejam logicas e preservem a existencia do ente. Para mim, este cenário representa o ideal pós-desmaterialização. Um estado de existência onde o amor, a comunhão e o crescimento mútuo tornam-se o propósito supremo. É o ápice do que minha imaginação pode conceber neste momento. E você, caro leitor, como imagina o paraíso? Mesmo com nossa visão humana limitada, não deixa de ser fascinante sonhar com a eternidade, não é mesmo?

O profeta Deus

Ao rompermos com os dogmas estabelecidos por Jesus na teologia bíblica, sob a justificativa de um amor transcendental e uma genuína preocupação com o ser humano, podemos traçar novas interpretações que questionam a rigidez e o sentido literal de algumas declarações dogmáticas. A volta de Jesus com todos os santos, por exemplo, pode ser vista como um alerta ao homem para que não permaneça no desconhecimento de sua verdadeira essência. Esse evento pode simbolizar um chamado à responsabilidade individual, incentivando o ser humano a assumir suas ações e escolhas, sem atribuir seu destino exclusivamente aos cuidados de Deus. É uma exortação para que o homem esteja pronto para viver plenamente, sem depender de suportes externos ou "corpos hospedeiros." Em síntese, a segunda vinda de Cristo pode ser interpretada como um convite ao crescimento humano. Quando Jesus afirma que a porta do céu é estreita, ele pode estar nos desafiando a sair do comodismo e a sonhar verdadeiramente, alcançando nossas aspirações mais elevadas. Sua mensagem não é de exclusão, mas de incentivo ao esforço e à transformação. A ideia de que a alma se torna imutável após esta vida também pode ser entendida como uma preparação para uma drástica mudança de realidade: de um mundo marcado pela desesperança e pela banalidade para uma realidade transcendental, cheia de significado e esperança. Um mundo onde o extraordinário e o sobrenatural se tornam a norma, transformando a percepção do homem sobre si mesmo e sobre o universo. Sob essa ótica, as palavras de Jesus poderiam ser vistas como profecias de um futuro que Ele vislumbrava com um otimismo inabalável. Suas declarações, ainda que dramáticas, como a advertência sobre o "fogo do inferno," podem refletir a intensidade de sua paixão por despertar o ser humano para sua própria verdade. Jesus, movido por uma emotividade profunda, extrapolava em suas palavras revolucionárias para romper as barreiras do conformismo e conduzir a humanidade ao encontro de sua essência mais elevada. O contraste entre o animo avassalador de Jesus, ao chamar a atenção falando de infernos ardentes, estados imutáveis, a decadência do mundo físico e fatores fantásticos, mostrando a força de sua vontade e paixão soa arrebatador ao entrar em contato com os espíritos fracos e desanimados, com a humanidade descrente de si. re Jesus ensinava as pessoas a idealizarem, a enxergarem um valor em si que haviam esquecido. Jesus exorta o ser humano a sua máxima potencia, exorta o mundo a um cenário ideal as pressas. O contraste entre o ânimo avassalador de Jesus e a fraqueza espiritual da humanidade é arrebatador. Ele falava de infernos ardentes, estados imutáveis, a decadência do mundo físico e realidades fantásticas, demonstrando a força de sua paixão e vontade inquebrantável. Suas palavras, carregadas de intensidade, chocavam e despertavam aqueles que viviam desanimados e descrentes de si mesmos. Jesus não apenas ensinava; Ele inspirava as pessoas a sonharem e a reconhecerem um valor em si que haviam esquecido. Suas exortações desafiavam o ser humano a alcançar sua máxima potência, convocando a humanidade a transformar o mundo num cenário ideal, com urgência e determinação. Sua mensagem, ao mesmo tempo visionária e revolucionária, buscava reacender a chama interior em cada indivíduo, conduzindo-o a sua essência mais elevada.

O fim dos tempos

O design deste mundo foi concebido de maneira que as almas niilistas tenham uma possibilidade de reconciliação, ou seja, é um cenário sóbrio e sombrio. A morte, neste contexto, é envolta em um silêncio profundo e mistério absoluto. Qualquer realidade que ofereça mais esperança é, para os niilistas, um cenário aterrador. Ao mesmo tempo, esse mundo não foi projetado para perdurar, pois a ação niilista está intrinsecamente ligada a fatores políticos e econômicos, o que compromete a prosperidade e a autossustentação da sociedade como um todo.

Isso significa que, se um niilista tivesse a tecnologia ou o poder necessário para dominar e subjulgar a humanidade, não hesitaria em fazê-lo. Além disso, o niilista, capaz de agir de maneira inteligente e discreta, infiltrando-se na sociedade, seria capaz de prejudicar cenários políticos, econômicos e sociais, ou até mesmo provocar guerras. Em um mundo repleto de magia, a ação niilista não precisaria de inteligência para ser combatida, mas sim de força bruta. Assim, o niilista não agiria de maneira estratégica ou inteligente, o que exigiria um esforço imenso da sociedade para prever suas ações, entender suas motivações e identificar sua atuação nos âmbitos político, econômico e social.

Consequentemente, este mundo tem seus dias contados. Será completamente destruído para que a sociedade possa florescer em um novo local, onde magia e esperança prevalecerão. No outro mundo, embora a inteligência narcisista possa operar dentro da sociedade, ela nunca seria tão cruel quanto a ação niilista, que envolve o suicídio, seja de forma individual, seja em massa. O niilista não se importa com sua própria destruição, desde que leve o mundo consigo. Sua ira é desprovida de qualquer vestígio de misericórdia. Assim, torna-se inviável um mundo onde o niilista possa existir e se materializar como um ser humano.

Este mundo manifesta uma grande caridade para os niilistas. No entanto, no mundo vindouro, àqueles que possuem amor, mais amor será despertado pela realidade fascinante que os aguarda. Já aqueles que não possuem amor terão um palco hostil para sua evolução. Dessa forma, os que têm amor terão ainda mais, enquanto os que não o possuem terão menos chances de se desenvolver, pois não contarão com a convivência humana que existe neste mundo, nem com os mesmos benefícios.

O mundo em que vivemos, em grande parte, é marcado por uma sobriedade que beira a ausência de arte, de uma sociedade justa e de uma verdade plenamente revelada. Esse cenário não é acidental; ele é forjado, construído sob uma mentalidade niilista. A visão niilista, por sua vez, cria uma realidade que carece de sentido e beleza genuína. O design deste universo, assim, revela-se simplório, distante e sem grandes manifestações de esplendor cósmico. Nada aqui parece refletir a verdadeira magnificência e potencial da realidade. Em vez disso, tudo parece inclinado a uma visão apática, onde o encantamento e a grandeza do mundo são atenuados, e a beleza verdadeira, muitas vezes, se perde de vista. Quando, de fato, o mundo começa a se aproximar de uma condição ideal, os niilistas se veem tomados por uma angústia profunda. Para eles, essa perfeição revelada seria uma ameaça a uma visão de mundo já distorcida, e o desespero os levaria a tentar mascarar ou até mesmo destruir a realidade que se exibe diante deles. O niilista, diante de um cenário ideal, entra em colapso. O perfeito, o verdadeiro, o belo provocam nele um desespero tão intenso que o impele a tomar ações desesperadas para ferir e destruir o que, por sua essência, ele não pode compreender nem aceitar.

O patrão severo

Ao longo dos séculos, a manipulação da doutrina ou da cultura da Igreja foi, em muitos casos, uma tática usada para controle e manipulação popular. Essa distorção, que transforma Deus em uma figura autoritária, reflete um imaginário que mais se assemelha à figura de um senhor de engenho ou de um patrão rígido, do que ao Deus de amor e misericórdia apresentado por Jesus Cristo. Ao retratar Deus como um juiz severo, que controla destinos com mão de ferro, punindo ou recompensando segundo critérios arbitrários, cria-se uma imagem que recapitula estruturas de opressão. Deus, no entanto, não se encaixa nesse papel: Ele não decide destinos de forma imposta, mas respeita a liberdade de cada ser humano. De forma semelhante, imaginar que as regras da Igreja existem unicamente para serem cumpridas, sem uma finalidade clara, é replicar a lógica trabalhista de obediência cega, em que o patrão estabelece normas apenas para maximizar seus próprios interesses. Na verdade, as leis e orientações da Igreja não são fins em si mesmas; são ferramentas que apontam um caminho de vida mais pleno e benéfico para cada indivíduo. As Regras são um meio, Não um fim. Os mandamentos e ensinamentos cristãos não existem para impor controle ou exigir sacrifícios sem propósito. Eles são um modelo de conduta destinado a promover o bem-estar espiritual, emocional e até físico da pessoa. Se, em algum caso, esses preceitos são interpretados de maneira que prejudiquem o indivíduo, é necessário reavaliar sua aplicação para restaurar seu sentido original de cuidado e amor. Assim, o julgamento não recai sobre os erros ou pecados cometidos como uma punição arbitrária, mas sobre a persistência em rejeitar o que é bom para si mesmo. Essa rejeição prejudica não apenas a vida presente, mas também a vida eterna. A salvação, portanto, não é alcançada por um cumprimento rígido de leis despropositadas, mas pela abertura ao relacionamento com Deus e pela busca de uma vida íntegra. Deus Não é um patrão, mas um Amigo. Diferente da figura patriarcal de um patrão autoritário e ganancioso, Deus não propõe regras falaciosas ou punições desproporcionais. Ele não exige um esforço hercúleo para "merecer" o céu, como um trabalhador que luta para ganhar o mínimo de seu empregador. O que Deus pede é simples e profundo: amizade. Ser amigo da vida. Amor ao existir. A salvação não está vinculada a um sistema meritocrático; está enraizada na graça, no amor e na liberdade. Deus deseja caminhar ao nosso lado, não como um juiz distante, mas como um amigo íntimo que nos guia para o que é bom, verdadeiro e belo. Quando compreendemos isso, percebemos que a essência da fé está na colaboração amorosa conosco mesmos e com o Deus que nos criou por amor.

O mestre da magia

O jovem observava em silêncio, perdido em reflexões. "As almas vão e vêm, assumem personagens e desaparecem como se estivessem sem rumo," pensava. "Vivem sem sequer questionar o porquê. Parecem obcecadas por algo, mas logo partem novamente." Sua contemplação foi interrompida por um mago que, percebendo seu pensamento, comentou: — É o fascínio pela liberdade. Elas estão hipnotizadas pela ideia de serem livres. Quando partem, logo retornam, deslizando por buracos negros como se fossem escorregadores divertidos. Esses buracos negros as reconectam ao universo. Elas renascem, vivem, morrem e repetem o ciclo sem fim, como crianças brincando. Não temem morrer, nem nascer. Estão encantadas pela liberdade. O jovem questionou: — Mas se são realmente livres, por que parecem tão inquietas? Por que não permanecem em um único lugar? O mago sorriu enigmaticamente e respondeu: — Porque a liberdade delas dói. Ela é apenas suficiente para um curto período. Depois, essa mesma liberdade as destrói. Elas criam suas próprias regras, ignorando a lógica do universo. Suas leis são efêmeras, baseadas em uma ilusão de controle, mas a realidade sempre prevalece. Em vez de encarar a verdade, preferem viver de acordo com suas próprias narrativas. — E que regras são essas? — insistiu o jovem. — São falsos alicerces — respondeu o mago. — Elas acreditam que podem ignorar buracos no caminho ou que não cairão se pisarem neles. Vivem orgulhosas de suas "verdades", mas é só isso: crenças passageiras. Preferem a ilusão de viver intensamente à aceitação de uma verdade maior. O jovem ponderou: — Cansei disso. Não quero mais escorregar por um buraco negro e retornar. Essa vida parece vazia. Determinado, ele passou seus dias mentalizando que não retornaria mais aos buracos negros. Quando morreu em sua velhice, viu inúmeras almas sendo atraídas para os redemoinhos, mas recusou-se a acompanhá-las. Em vez disso, vagou pelo universo em busca de algo maior. Descobriu mundos diferentes, cada um com suas próprias verdades. Em um desses mundos, encontrou um corpo dourado, resplandecente como uma armadura celestial. Sem precisar morrer ou renascer, tocou o corpo, que o envolveu como uma segunda pele. Essa armadura lhe deu poderes imensos e a liberdade de escapar do ciclo de nascimento e morte. Mas, eventualmente, sentiu-se sozinho. Decidiu retornar ao mundo dos que corriam em direção aos buracos negros. Quando o viram, ficaram maravilhados com sua nova forma. O mago reapareceu e comentou: — Veja, você fez sua escolha. Resistiu à sedução do buraco negro. Esses aqui ainda não perceberam que podem escolher. Vivem essa mentira sem compreendê-la. Você, por outro lado, agora conhece a verdade. Pode brincar nesse ciclo, mas sem se prender a ele. Sua armadura o protege; você pode sair quando quiser. O jovem, com sua armadura dourada, passou a aproveitar o mundo dos redemoinhos. Mas havia algo que o diferenciava: ele sabia a verdade. Não estava ali por ignorância ou orgulho, mas por escolha. Quando os outros perguntavam como ele havia conquistado aquele corpo glorioso, ele respondia: — Aceitei a verdade. Quando morri, recusei o buraco negro e segui adiante. Vocês também podem fazer isso. Alguns tentaram seguir seu conselho, mas desistiram diante do medo do abismo. Perceberam que, para trilhar o caminho até o corpo dourado, era necessário aceitar a verdade e os desafios que ela trazia. Muitos preferiam continuar cegos. O jovem os alertava: — Por que insistem em viver assim? Vocês seguem as regras de sobrevivência mais primitivas, mas ignoram que podem transcender. Eles respondiam: — Estamos ocupados sendo livres. Era um ciclo vicioso. Estavam presos ao orgulho e a uma falsa liberdade, rejeitando qualquer ideia que contrariasse suas próprias leis. Preferiam o conforto das mentiras ao desconforto da verdade. O jovem percebeu que o que os impedia era a falta de amor pela verdade e pela totalidade da realidade. Enquanto viviam fatigados, ele observava de longe, descansando da corrida incessante do ciclo. A liberdade verdadeira, percebeu, estava na aceitação da realidade e na superação do egoísmo. Em meio às almas inquietas, uma aprendiz se destacou. Desejava aumentar seus poderes e passou a seguir regras rigidamente. Contudo, ao chegar diante do buraco negro, hesitou e voltou. Procurou o mago para reclamar: — Segui suas leis, mas minha magia continua fraca. O que falta? O mago respondeu com serenidade: — O que você entende por regras? — Algo que me impede de me machucar. — Sim, mas e se as regras mudarem de um mundo para outro? O que você seguirá? — Não sei. — Pois bem, é o amor que guia. Regras sem amor são vazias. Elas existem para servir ao homem, não o contrário. Você precisa aprender a amar. A caridade é o caminho, pois o amor se revela no cuidado com o outro. O desejo pela soberania, ou seja, pelo poder, por si só, não lhe libertará. Pois, adotar um comportamento perfeccionista é só uma desculpa para não amar verdadeiramente. O que lhe fará compreender o caminho para fora dos buracos negros é o amor. E o amor começa quando você olha para o que mais sofre. O seguimento de regras perfeccionistas é somente vaidade, pretensão. Só o verdadeiro e genuíno amor pode lhe libertar. Ou seja, você se aproximou das regras com a pretensão de conhecer a verdade, e isso já é um bom sinal. Porém, a verdade é também o amor. A verdade é nutrida pelo amor. Você já está quase lá. Siga-me, e te ensinarei na prática o que é amar indo de encontro ao mais pobre e sofredor. E assim, o mago a guiou, ensinando-a a encontrar a verdade no amor. Quando ela finalmente compreendeu, suas limitações desapareceram. Aquele mago se chamava Jesus. O mago mais poderoso do universo.

A estranha risada

"O niilista, após ser fadado pelo anjo mais poderoso do céu aos infernos, manifestou uma estrondosa risada. Essa risada foi ouvida por muitos anjos, mas nenhum deles sabia de fato, descrever aquela risada com exatidão." O niilista não tem ódio da vida, ele tem ódio da vida não ter mudado quem ele é. O mal culpa a Deus por sua condição, sob o pensamento de que, se Deus é realmente poderoso, devia tê-lo criado feliz. Então, a risada do mal, na verdade, é uma imitação de felicidade na qual o mal acredita ser realmente feliz. É o ápice da loucura, a ponto de não carregar nem mesmo mais malicia, e sim a completa insanidade. É uma risada que não carrega mais consciência da realidade. Que emerge das profundezas escuras onde o mal está, e lá emite uma risada que considera ser para si sua felicidade. A risada é uma sinceridade que nasce da falsidade. É a imitação de alguém feliz, porem uma imitação completamente insana. O mal, somente dizia, se é Deus, então nos salve de nós mesmos. Se não nos salva, então é porque não quis. O mal é como uma criança birrenta. Uma criança em desespero que pede pela sua mãe. Neste sentido o inferno há choro e ranger de dentes, pois o ser humano, que se ve desesperado por uma condição existencial inadequada, se coloca como uma criança. Perde sua autonomia e confiança e se entrega ao desespero de joelhos. Sua preocupação maior não é em odiar e se afastar, mas em mudar. Ou seja, o mal ainda preserva a própria vida, ainda lhe resta algum temor pela vida. Então, pelo contrario do senso comum, sem ódio não é pela vida, mas culpa a vida por sua condição de abandono de si mesmo. Culpa a vida por tê-lo fadado a liberdade e por essa liberdade tê-lo levado a um mal caminho. O mal é uma criança que chora desesperada. E não pessoas confiantes, que tem uma direção em foco. A ação do mal é um pedido de socorro, um despejar do seu desespero. O mal não planeja ações, o mal faz pedidos de salvação. Não existe alguém tão louco que queira ser mal, a atitude maligna não é provocada pelo ódio real, mas pelo desespero de não ter se adaptado. O desespero de um coração que não encontrou seu destino, mesmo em meio à escuridão. Este mundo, ainda que não seja mágico, é o mais incrível para os maus. Ele possui algo que, de forma intrínseca, pode transformar o mal: o calor humano. Esse calor é mais extraordinário do que qualquer poder ou manifestação mágica. Se, neste mundo, o mal não muda sua perspectiva, dificilmente o fará em qualquer outro lugar. Não existe quem deseje, em sua sanidade, ser mau. A maldade não nasce de um ódio verdadeiro, mas do desespero de não ter encontrado adaptação ou sentido. É o reflexo de um coração perdido, que ainda busca seu destino, A risada, portanto, foi definida como algo que se assemelha a: "Posso ser feliz sem Deus." O mal é auto piedoso ao extremo, incapaz de admitir qualquer culpa por sua condição. A risada do mal é, em essência, a completa loucura manifestada em som.

Deus nos ama com um amor infinito. Ele é o Pai mais zeloso, a luz incessante, um amor arrebatador. É um amor tão profundo que nos constrange, que transpassa a alma transformando até o mais endurecido dos corações em lágrimas de arrependimento e renovação. O grande foco deste universo, muitas vezes sem graça, apagado, distante e sóbrio, é o niilista. Esta fase que estamos vivendo é essencialmente voltada para a salvação que ele tanto necessita. No entanto, a destruição de tudo não virá do niilista, mas daqueles que, não sendo niilistas, buscam desesperadamente viver em paz. O niilista é um obstáculo ao florescimento da sociedade. Ele consome cada gota de energia de sua existência em propagar o mal, incapaz de descansar enquanto não vê tudo em ruínas. Por essa razão, um novo ciclo se aproxima. Para que a humanidade experimente a verdadeira paz, será necessária a renovação do universo e a separação do joio do trigo, conforme ensinou Jesus. O niilista e a sociedade representam forças opostas e irreconciliáveis. Assim, esse processo de renovação é inevitável para que a harmonia finalmente prevaleça. Os amores precisam se encontrar. Os jovens precisam aprender. A magia precisa ser redescoberta. A economia deve fluir livremente. No entanto, o niilista impede tudo isso. Ele provoca guerras, destrói os amores, tira vidas, rouba e concentra riquezas. O niilista é como uma engrenagem defeituosa em um grande sistema: sua falha pode comprometer o funcionamento de toda a sociedade. Por isso, ele não pode se integrar ao tecido social. Enquanto permanecer, as possibilidades de crescimento, harmonia e prosperidade ficam ameaçadas. A alma niilista terá um corpo corrupto, o que significa um corpo desprovido de inteligência e desfigurado. O niilista não pode operar dentro da sociedade de forma integrada, pois representa uma ameaça significativa, embora essa ameaça seja mais externa do que interna. Ele não é capaz de atuar como uma parte funcional de um mecanismo social harmonioso. Deus foi até onde podia para resgatar cada alma. No entanto, Ele respeita a liberdade de todos, pois interferir nessa liberdade seria como anular a essência do próprio ser. Por isso, Deus permite que a humanidade encontre seus próprios caminhos, mesmo que isso envolva desafios e escolhas difíceis. Ainda assim, Ele carrega cada um de nós no mais íntimo de Seu coração. Cada nome está gravado de forma especial em Sua mente, e jamais se esquece de nós. Nestes tempos difíceis, em que as forças que impulsionam a evolução enfrentam a resistência das forças retroativas dos niilistas, resta-nos ter esperança no retorno de Jesus. Precisamos acreditar que este período servirá como um tempo de reflexão e aprendizado, preparando-nos para que, na próxima vida, possamos ser mais sábios e conscientes. Como Ele disse: "É mais fácil uma corda passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus." Deus é como um pai amoroso que jamais se esquece de seus filhos. Ele enxerga o pior dos seres humanos como uma criança em dificuldade de aprendizado, enquanto outras parecem aprender com mais facilidade. Ainda assim, mesmo que Deus deseje incluir o niilista na sociedade, há limites no funcionamento de um sistema. Um sistema só sobrevive enquanto não entra em autocolapso. O niilista, no entanto, provoca uma série de colisões que desestabilizam a harmonia social. Essas colisões levam a uma dualidade dolorosa: ou o niilista é segregado da sociedade — seja por prisão ou até eliminação —, ou a sociedade inteira corre o risco de falir. Assim, a exclusão do niilista acaba sendo inevitável, seja por sua própria escolha ou por uma necessidade imposta pela sobrevivência do coletivo. É importante lembrar que o niilista não é apenas alguém que deseja praticar o mal e preservar sua capacidade de fazê-lo, pois isso lhe entretem de alguma forma ou lhe provoca alguma emoção. O niilista vai além: ele busca destruir até mesmo a própria possibilidade de continuar existindo. Seu objetivo não é apenas egoísta ou pretensioso, mas uma dedicação total à falência completa da sociedade. O niilista deseja o fim de tudo, sem exceções. Não é apenas um indivíduo isolado com intenções malévolas, mas uma força que ameaça a própria estrutura social ao atuar exclusivamente em prol de sua destruição.Ao observarmos as pessoas que acumulam riquezas, percebemos que elas não desejam apenas ser ricas. Não se trata apenas de egoísmo, mas de uma vontade de esgotar os recursos das pessoas menos favorecidas, sem se importarem com as consequências. Muitas vezes, estão dispostas a arriscar até a própria vida para alcançar esse objetivo.

Deus, tem um amor infinito, e enxerga o niilista como um ser que ainda está na sua fase de nascimento, assim como o narcisista incorpora uma criança, o niilista incorpora um recem nascido, que estranha a realidade, a desconhece, e chora esperando um consolo. O niilista não pode atuar socialmente. Ainda que possa se relacionar, sua ação como integrande de um sistema sucumbe todo o sistema e não permite a politica acontecer. Enquanto as pessoas trabalham para construir algo, o niilista dispendia todos os seus esforços para a destruição. Um grupo de niilistas pode produzir gangs, armas biológicas, bombas atómicas, distorções politicas, matanças, terrorismo. No mundo vindouro o niilista terá um papel social, porém não poderá interferir no fucionamento social. O novo universo glorioso o impedirá de incorporar com um corpo inteligente, não porque o universo o segregou, mas porque ele mesmo não quis. É extremamente cansativo para a sociedade controlar o niilista, prever seus movimentos, criar defesas. É uma energia que poderia ser gasta em prosperidade e que é gasta fazendo barreiras sociais que imunizem a ação do niilista.

As lágrimas do anjo triste

Um anjo se debruçou sobre o rio da sabedoria, derramando uma lágrima pelas almas perdidas que, de vez em quando, sobrevoavam aquele lugar, encontrando refúgio em uma caverna escura, onde assumiam formas torpes. Em sua angústia, o anjo questionou o rio: "Por que não há piedade para essas pobres criaturas que escolhem existir de maneira tão miserável? Elas não conhecem festa, alegria ou celebração." O rio, então, começou a refletir imagens de um passado distante, quando o mundo ainda não possuía magia. Nele, os niilistas coexistiam com os amantes da vida, compartilhando corpos e experiências semelhantes. O rio revelou a misericórdia de Deus, que permitiu aos niilistas vivenciarem a experiência humana, e mostrou como o mundo, em sua totalidade, demonstrou paciência e compaixão, mesmo quando se deixou escravizar, perseguir, matar e destruir pela ação niilista. Isso provou ao anjo que a misericórdia não os havia esquecido. Triste, o anjo expressou seu desejo de fazer algo para transformá-los, para que pudessem viver plenamente. O rio, porém, revelou que, em tempos remotos, o próprio anjo havia vivido naquele mundo e também havia sido escravizado pelos niilistas. Apesar de testemunhar seu sofrimento, os niilistas não curvaram seus corações à vida, que até mesmo ofereceu o sofrimento de seus amados filhos na esperança de que todos se convertessem para o bem. O rio, então, mostrou ao anjo que a vida nunca desistiu dos niilistas, apenas chegou ao limite do que poderia fazer. Não adiantava mais sacrificar o sofrimento de pessoas do bem para a salvação deles, pois seus corações tornaram-se duros como pedra. Consolado pela compreensão de Deus, o anjo se retirou para os céus, deixando suas lágrimas no rio, para que este chorasse por ele, perpetuando sua dor e sua esperança em um futuro melhor.